Nem só de ação vive o cinema. Bons filmes não se apoiam somente em grandiosas cenas de guerra, luta e cheias de explosões. Às vezes, quem acaba roubando a cena é o roteiro. Quando bem escrito, este serve sempre de base para boas atuações e nas mãos do diretor certo, acabam virando clássicos cheios de indicações, prêmios e fãs. E quando tudo isso funciona vemos obras primas como Chinatown, de 1974.
Escrito por Robert Towne e dirigido por Roman
Polanski, Chinatown conta a história de um detetive que se vê deparado com um
caso complicadíssimo de ser resolvido. Quando J.J. Gittes (Jack Nicholson) é contratado
pela suposta mulher de Hollis I. Mulwray (Darrel Zwerling), engenheiro chefe do
Departamento de Água e Energia de Los Angeles para investiga-lo sobre uma
suposta traição. À medida que Gittes vai mergulhando fundo na investigação, ele
logo percebe que até a Cidade dos Anjos tem seu lado sombrio. E é com base nessa
premissa que vemos o filme se desenrolar e seguir por caminhos imprevisíveis
com direito a fraudes, corrupção e traição.
É impressionante o quanto o filme é bem escrito.
Towne já tinha estabelecido seu nome no cinema americano com outros filmes só
que com Chinatown ele se supera. Com uma história bem organizada com direito a
temas e subtemas, o filme segue sem lhe dar uma previsão de como tudo pode
acabar. Personagens bem distribuídos, falas muito bem feitas, tudo perfeitamente
em seu lugar e aparecendo na hora certa. E o modo como Towne trabalhou os temas
principais do filme faz com que toda a atmosfera misteriosa e de filme Noir
flua perfeitamente durante as mais de duas horas de filme. E com um bom
roteiro, surgem boas atuações. O desempenho de Jack Nicholson como Gittes é
incrível. Ele consegue dar personalidade suficiente ao personagem fazendo com
que você esqueça completamente o ator que está ali e se identifique com as
dúvidas dele. Quem rouba a cena também é Faye Dunaway. Sua interpretação como
Evelyn Cross Mulwray, de tão boa lhe rendeu uma indicação ao Oscar concorrendo
a melhor atriz do ano. Some a esse roteiro impecável a direção acima da média
de Roman Polanski. O modo como ele filma tudo, com uma trilha sonora pouco
invasiva, mas presente e com uma fotografia do jeito que tem que ser, vemos a
perfeita combinação necessária para eternizar um filme como um dos clássicos da
história do cinema.
Chinatown de tão bom, pode ser, sem dúvida
alguma, considerado uma aula de cinema para aqueles que admiram e gostam da
sétima arte. Prova de tal perfeição é a quantidade de indicações que o filme
recebeu em 1975, que foram ao todo 11: Melhor filme, melhor diretor, melhor
ator (Nicholson), melhor atriz (Dunaway), melhor fotografia, melhor direção de
arte, melhor figurino, melhor edição, melhor trilha sonora, melhor som e melhor
roteiro original, ganhando apenas esse ultimo. Chinatown merece ser visto pelo
menos uma vez todo ano. Pode apreciar sem moderação e sem medo de ser feliz.