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08/04/2013

Dica: Livro O Príncipe da Névoa



Título: O Príncipe da Névoa
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradutor(a): Eliana Aguiar
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Ficção
Ano/Edição: (Brasil) 2013/1

 1943. Max Carver e sua família se mudam para um vilarejo (que mais parecia uma maquete, com casinhas de cores claras e cercas brancas, todas no mesmo estilo, uma estação de trem digna de colecionador, e um mar cristalino para fechar) por decisão de seu pai, Maximilian Carver, relojoeiro metido a eletricista e inventor, que temia que a guerra chegasse a eles se estivessem na cidade. Assim que chegam, a irmã mais nova de Max, Irina, adota um gato que se aproxima da família enquanto esperam pelo transporte na estação, gato esse que, a um primeiro olhar, Max acha bastante suspeito. Ainda bastante afetado pela mudança, Max acaba ficando amigo de Roland, adolescente local que o aborda quando estava observando o mar. Ele descobre que Roland é o neto do faroleiro local, o único sobrevivente do naufrágio do Orpheus, navio que havia afundado ali há 25 anos quando bateu nas rochas altas da praia. Mas Max também descobre que o naufrágio do Orpheus, a história por trás da construção da casa para a qual haviam se mudado e o misterioso cemitério de estátuas atrás da casa têm uma forte ligação, uma ligação que pode ser mortal para ele, Roland e sua família.

 Esse romance, o primeiro de Zafón, foi publicado em 1993. Segundo ele, tinha 26 ou 27 anos na época que o escreveu, o que lhe parecia muito mas que na verdade não era suficiente, e foi publicado apenas porque teve a sorte de ganhar o concurso de literatura juvenil no qual o inscreveu (pela falta de um editor). Na minha concepção é fácil defini-lo como um conto: 180 páginas, uma estória rápida em que apenas um grande clímax se apresenta. As tramas secundárias rapidamente se fundem numa só, poucos personagens ganham grandes caracterizações – na verdade, quando você termina de ler o livro, percebe que ainda não conhece Alicia (irmã mais velha de Max que está tão presente na estória quanto ele) tão bem, e que os pais do garoto, que quase não têm falas diretas no livro, são figuras distantes. Porém, nada disso faz dele um livro ruim. É na verdade um daqueles que você devora avidamente, principalmente pelo seu pequeno número de páginas.

Outra coisa que senti quando li O Príncipe da Névoa, e isso se deu por já ter lido romances zafonianos suficientes para não querer ler nenhum outro autor, é que há alguns pontos em que você pode observar o quanto Zafón tem razão ao dizer que era novo e prepotente quando escreveu este livro. Enquanto em romances como A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo você tem uma linguagem mais madura, mais articulada, n’O Príncipe da Névoa ele soa como se o próprio Max houvesse escrito o livro – o que pode ter sido nada mais, nada menos que uma tática do autor. Há também o uso de espaçamentos entre ideias, aqueles famosos asteriscos entre parágrafos que nos levam para outra cena, outro momento. Nos seus livros seguintes ele passa a usar descrições no lugar deles, seja de sentimentos ou de locais, o que aumenta a intimidade na relação leitor-personagem. Outro ponto é que nesse romance os personagens não são trabalhados tão a fundo, suas histórias são rasas, enquanto em outros romances o escritor dá descrições longas da vida de cada personagem que é ou se tornará essencial.

Mas essa avaliação se resume a uma comparação entre os romances seguintes de Zafón e o discutido. Vamos a uma avaliação mais geral (leia esta parte apenas se não se importar com spoilers).

O Príncipe da Névoa é, nas palavras do autor, um romance que te agrada aos 13, 14 anos, mas também aos 23, aos 43 e aos 83. É curto, tem uma linguagem simples e acessível, e uma estória que cresce em torno de um mistério que é revelado aos poucos, sendo que o melhor é guardado, claro, para o final, o que nos leva ao clímax, onde os heróis enfrentam o vilão. Um roteiro clássico. O que ele tem de especial? Bem, um dos pontos que acho bastante inteligentes nele é que Zafón nunca cita o nome do vilarejo para onde a família Carver se muda, nem mesmo o nome do país onde ele se encontra ou da cidade da qual saíram. Apenas diz que é um vilarejo banhado pelo Atlântico, que o ano era 1943 e que a guerra estava presente, o que dá a você a noção de que deve ser algum lugar na Europa (e, se levar em conta que todos os romances dele se passam em Barcelona, você consegue dizer que talvez o país seja a Espanha). Ainda assim você consegue visualizar todo o local e até conectá-lo a uma cidadezinha litorânea que você visitou nas férias passadas. E você não percebe isso até o momento em que o nome do lugar lhe faz falta (eu mesma só percebi quando pensei em escrever uma resenha sobre o livro). Outro é que, apesar de não conhecer os personagens tão bem, você ganha carinho por eles. Marximilian Carver, por exemplo, é um personagem cuja personalidade é sucintamente representada e pelo qual você percebe que tem afeto. 


 As falhas são claras também. A questão de não trabalhar bem os personagens é uma delas: coisas ficam faltando. Irina se torna um personagem distante, cujo acidente você mal sente. O próprio Príncipe da Névoa, apesar de descrito, não tem sua história contada por completo, o que te deixa um tanto em cima do muro, sem saber se o odeia ou o venera. Por ser um romance curto, Zafón economiza em descrições e detalhes. Isso te deixa um tanto perdido às vezes e causa perguntas que provavelmente nunca vão ter respostas. Uma delas é o porquê de os relógios sempre andarem para trás quando o Príncipe da Névoa se mostra presente. É porque sua presença efêmera os afeta ou porque ele já viveu tantas vidas que o tempo talvez nem lhe faça diferença? E mesmo assim, porque andar ao contrário? Quando o Orpheus retorna do fundo do mar, trazido de volta por Cain, a antiga rachadura em seu casco não parecia fazer diferença para ele, a água não conseguia entrar de volta por ali. Porém, quando o navio se choca novamente nas rochas e abre uma segunda brecha em seu casco, ele volta a naufragar. Cain ainda está ali e deixa que isso aconteça ao navio sem pestanejar, mesmo sendo o tão poderoso Príncipe das Névoas e tendo sido tão apegado ao navio por anos. Por quê? Porque sabia que por mais que Roland e Alicia tentassem, o primeiro não conseguiria se salvar? Ou porque simplesmente achou que repetir o naufrágio do Orpheus, exatamente 25 anos depois, seria “uma boa ideia”? São perguntas para as quais você supõe respostas de acordo com o que lê, respostas que parecem óbvias até, porém nada fica 100% explicado.

Em resumo, é um livro bom para se passar o tempo – um voo ou uma viagem de carro, por exemplo. A estória é boa e te prende até o último segundo. Como fã do autor, eu adorei o romance e espero que outras pessoas possam lê-lo e adorá-lo também.

Sou Liss, blogueira do Poser Side e parceira do Lunáticos.

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