As décadas de 70 e
80 foram muito importantes para os quadrinhos.
Com a paixão por histórias de
super-heróis consolidada após a recuperação das baixas vendas na década de 50
devido à perseguição política sobre a violência nas HQs, era chegada a hora de
mostrar o nível de qualidade que essas histórias poderiam ter. Novos autores
com novas visões influenciaram muito o futuro das HQs. Nomes como Alan Moore,
Frank Miller, Dan Jurgens, John Byrne, Neil Gaiman, Grant Morrisson entre
outros, deram profundidade as histórias como nunca antes vista. Moore, ao lado de
David Lloyd, foi o responsável por uma das melhores histórias de anti-heróis de
todos os tempos: V de Vingança.
A história começa
após um conflito político que leva a uma guerra nuclear. Um novo poder totalitário
assumiu o poder da Britânia e impõe um regime autoritarista a sua população que
é constantemente vigiada e controlada. O Poder do Estado controla todos os
meios de comunicação, sessando totalmente qualquer direito de liberdade ao povo.
No meio dessa crise, surge V, um anti-herói mascarado que elabora um atentado ao
Estado visando o retorno da liberdade aos cidadãos. Disfarçado de Guy Fawkes,
histórico personagem britânico, V também leva consigo uma vingança pessoal. No
meio de seus planos, V conhece Evey, jovem garota que perdeu os seus pais
durante o período da guerra. Ela logo se torna aprendiz desta figura tão
importante para a história do seu país.
Para o leitor não
é difícil achar aquele futuro impossível. E para aumentar ainda mais essa à
sensação, Moore situa sua história há poucos anos depois do ano da publicação.
Essa aproximação funciona como uma critica ao modo como seu país estava sendo
conduzido naquele tempo, sem excluir a possibilidade de todos aqueles
acontecimentos serem perfeitamente possíveis em qualquer lugar do mundo. Moore
excluiu todos os "efeitos sonoros" dos quadros para reforçar essa
sensação realista da sua história. Qualquer pessoa naquele universo poderia ser
o V. Todos nós temos um pouco daquele anti-herói. E o leitor se sente tão
próximo dele como se aqueles ideais estivessem surgidos primeiro na sua própria
cabeça. V de Vingança te faz pensar de um modo que nenhuma outra história
consegue. E o conto de Valerie no meio da narrativa emociona e transforma tanto
Evey como o leitor.
Outro ponto
importante para a narrativa são os desenhos. Não é tarefa fácil para nenhum
cartunista narrar uma história sem descrições nas imagens. Aqueles textos
descrevendo os acontecimentos dão contexto à imagem. Mas isso não é necessário
em V de Vingança. David Lloyd consegue descrever em seus traços todo o peso da
história sem usar tais artifícios. Lloyd mostra a anarquia em que os
personagens estão de modo impactante, sem igual, quase que como um tapa na cara
do leitor, que se vê obrigado a admirar quadro a quadro, perplexo como se os
traços fizessem mais sentido do que a narrativa em si. Dá pra sentir a
qualidade da Graphic Novel sem ao menos ler uma única frase. Se todos os
acontecimentos fossem descritos em texto como um livro, não surtiriam o mesmo
efeito sobre o leitor.
V de Vingança será
eternamente atual. A visão de um futuro anárquico de Moore sempre será possível
nas nossas vidas. Só por isso, todo fã de quadrinhos precisa lê-la. A qualidade
da história, todo o drama vivido pelos personagens, a ação bem distribuída e
seu valor histórico, torna a narrativa de Moore e Lloyd obrigatória para
qualquer leitor em geral.