Pode-se dizer que
grande parte de tudo que vemos hoje é uma evolução ou regressão dos novos
preceitos gerados pela Contra Cultura na década de 60 e 70. A música, as
roupas, quase tudo mudou, juntamente com um novo modo de pensar.
O Poderoso Chefão
(The Godfather) conta a história de Don Vito Corleone, patriarca da família
Corleone, chefe da máfia italiana em Nova York. Quando outra família tenta
pedir ajuda a Vito com proteção e auxilio político para difundir e administrar
a venda de narcóticos em Nova York, Corleone nega ajuda, pois já se vê
satisfeito com todos os seus negócios e se rejeita a se misturar com
traficantes. Essa negativa faz despertar uma guerra mortal entra as famílias,
colocando em cheque o que é mais importante para todos. Baseado no icônico
livro de Mario Puzo, o primeiro Poderoso Chefão impressionou público e critica.
O primeiro relato da vida dos Corleones foi inacreditável. Testemunhas contam
que o filme tinha tudo para dar errado. O principal astro (Brando) estava sem
compromisso algum com as gravações, passava a maior parte do tempo dentro de
seu trailer e brigava constantemente com Coppola. E quando entrava em cena, não
fazia sequer questão de decorar todas as suas falas (algumas ficavam pregadas
nas costas dos atores coadjuvantes). E mesmo assim, Brando foi esplendido no
papel de Don Corleone. Um ponto forte e espantoso para a época foi o fato de
que Coppola, mesmo sendo a ultima opção da Paramount para direção do filme,
toma a história para si de um modo único, particular, intenso. Sua visão sobre
a história de Puzo é marcante em todos os momentos. A iluminação usada em todo
o filme glorifica cada atitude dos personagens e dá uma profundidade a cada
sequência nunca antes visto no cinema. Todo o filme funciona perfeitamente,
minuto a minuto, causando tensão ao espectador sobre a que ponto toda aquela
barbárie iria levar. Não é a toa que até hoje ele é considerado um dos melhores
filmes de todos os tempos. O Poderoso Chefão estrou em 1972, custou aproximadamente
7 milhões de dólares e fez mais de 245 milhões em bilheteria por todo mundo.
Recebeu 10 indicações ao Óscar, vencendo 3 delas, como Melhor Filme, Melhor
Ator (Marlon Brando) e Melhor Roteiro Adaptado.
Em 1974, impulsionado
por todo sucesso do primeiro filme veio O Poderoso Chefão Parte 2. Agora, com
Michael Corleone no poder dos negócios da família, vemos o filho mais novo
tentando expandir os seus negócios, no meio de traições e uma investigação
federal. Vemos também a história de origem até a vida adulta de Vito Andolini,
futuro Don Vito Corleone. A adição de flashbacks para contar a ascensão de Don
Corleone em Nova York é o ponto alto do filme. Com interpretação de Robert De
Niro no representando Vito na infância, ele conseguiu interpretar tão bem tudo
que aconteceu na vida de Corleone que é como se estivéssemos vendo um Marlon
Brando no papel do mesmo, só que mais jovem. Essa parte do filme é tão
impactante que ofusca um pouco a outra metade da história. Aliás, a segunda
parte da narrativa, mesmo com mais um show de atuação de Al Pacino como Michael
Corleone, deixa um pouco a desejar em relação ao primeiro longa. Mesmo assim, O
Poderoso Chefão Parte 2 ainda é um ótimo filme. O segundo filme apurou mais de
193 milhões de dólares em bilheteria, recebeu 11 indicações ao Óscar, vencendo
6 delas, como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Robert De
Niro), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora.
Em 1990, chegou
aos cinemas mundiais a aguardada terceira e ultima parte da trilogia que não
tinha planos para tanto. Dessa vez a história se passa na Europa, quando
Michael Corleone está arrependido de todas as suas atitudes passadas e tenta
limpar o seu nome e tentar reaproximar a sua família que a muito tempo anda
afastada. Enquanto Michael planeja se afastar dos negócios obscuros com um
investimento milionário no banco do Vaticano, a máfia encara isso como uma
traição e busca vingança a aquele que um dia foi um dos seus líderes. Com uma
cara de filme europeu, a trilogia de Coppola tem em seu terceiro episódio o
mais inferior em qualidade de todos. O poder da família Corleone chega a um
nível exagerado demais. Fica difícil engolir todo aquele poder de Michael dentro
do Vaticano. Nesse terceiro vemos um Al Pacino atuando de forma mais
automática, sem todo aquele destaque dos dois filmes anteriores. Mesmo com um clímax
com um assassinato muito bem filmado (ponto mais alto do filme), a impressão
que ficou foi que aquela regular continuação não acrescentaria mais nada a tudo
de bom que foi visto antes. Coppola devia ter parado nos outros dois filmes.
Nem o retorno do bom elenco, e a dição de novos bons atores, conseguiram
melhorar a qualidade desse terceiro episódio. Mesmo com uma avaliação mais
negativa do público e da crítica em relação aos outros, O Poderoso Chefão Parte
3 mais de 136 milhões de dólares em bilheteria mundial, recebeu 7 indicações ao
Óscar e não levou nenhuma estatueta.
Pelo valor
histórico, o importante papel no cinema e pela qualidade da adaptação da
história de Mario Puzo, a Trilogia de O Poderoso Chefão é uma coletânea de
filmes obrigatórios para qualquer fã de cinema e arte em geral. A trilha sonora
marcante e suas sequencias amplamente copiadas durante todos os últimos anos em
inúmeros filmes e séries, é outro fator importante. Uma verdadeira aula de
direção, roteiro e atuações. Tudo graças às mentes dos jovens que viveram o
ápice da reviravolta cultural no mundo todo. O século mais fértil
ideologicamente de todos os tempos.