Criar empatia
entre um vilão e o público não é uma tarefa das mais fáceis.
Independente de
suas ações, as pessoas continuariam concordando com as atitudes altruístas dos heróis.
Alguns autores até conseguem instigar em seus leitores aquela velha discursão mental
sobre se existe certo ou errado naquele contexto. Anthony Burgess com seu Alex
em Laranja Mecânica, Jeff Lindsay com seu Dexter Morgan são bons exemplos
disso. Mas, pra impressionar o leitor como Alan Moore conseguiu com A Piada
Mortal é muito difícil.
Um dia ruim. É
apenas isso que separa um homem são da loucura. Pelo menos segundo o Coringa,
um dos maiores e mais conhecidos ( se não o maior de todos) vilão do mundo dos
quadrinhos. E ele quer provar o seu ponto de vista enlouquecendo ninguém menos
que o principal aliado do seu maior inimigo: O comissário Gordon. Cabe ao Cavalheiro
das Trevas impedir.
Com sua história
focada intencionalmente no coringa, Moore consegue criar a melhor história de
origem para o vilão. Seu roteiro aproxima tanto Batman e seu antagonista, que
ao final os dois se entendem perfeitamente. Um trauma pode realmente mudar a vida
de uma pessoa. E é nesse ponto que Moore acerta em cheio com a sua história. O
fato de existir uma justificativa para os atos de vilão e herói humanizam ambos
a um ponto de perfeita sinergia com o leitor. A narrativa faz dessa aproximação
seu ponto forte, dando a experiência da leitura um prazer único. E a discursão
interna em entender o que é certo e o que é errado nas atitudes dos personagens
nunca teve um gosto tão prazeroso como em A Piada Mortal. As ilustrações
reforçam essa aproximação prevista no texto. Com desenhos de Brian Bolland, A
Piada Mortal cativa qualquer um, seja fã ou não. É uma obra de arte das
melhores, com profundidade semelhante a qualquer quadro famoso por aí. Olhar
para os olhos do Coringa em determinados quadros faz o leitor ter diversas
impressões sobre a genialidade e a crueldade em seus atos. Dá até pra pensar se
existe alguma justificativa para as suas atitudes. Somente o texto de Morre e
as ilustrações de Bolland para despertar tais questionamentos nos leitores.
O Batman possui o
status de herói mais realista das HQs. Ele é o que é graças a um trauma sofrido
na sua infância. Como ser humano, ele é igual a qualquer outra pessoa. Não
possui superpoderes e não é de outro planeta. Sim, existem outros heróis com
origens semelhantes. Mas o drama da vida de Bruce Wayne é único, marcante,
intenso, cruel. Com A Piada Mortal, Alan Moore mostra que os vilões são tão
humanos quanto os heróis. Suas atitudes e seus traumas são tão genuínos em seu
princípio quanto os de seus antagonistas. Bruce Wayne e o Coringa são iguais a mim
e a você. São vítimas de acontecimentos, mudanças, perdas. E são as dúvidas
entre o certo e o errado no universo de A Piada Mortal que fazem desta uma das
melhores histórias já escritas.